quinta-feira, 6 de junho de 2013

Origem da Língua Portuguesa

História da língua portuguesa

Trecho de poesia medieval portuguesa

Das que vejo
non desejo
outra senhor se vós non,
e desejo
tan sobejo,
mataria um leon,
senhor do meu coraçon:
fin roseta,
bela sobre toda fror,
fin roseta,
non me meta
en tal coita voss'amor!
João de Lobeira
(1270–1330)


A história da língua portuguesa é a história da evolução da língua portuguesa desde a sua origem no noroeste da península ibérica até ao presente, como língua oficial falada em Portugal e em vários países de expressão portuguesa. Em todos os aspectos - fonética, morfologia, léxico e sintaxe - o português é essencialmente o resultado de uma evolução orgânica do latim vulgar trazido por colonos romanos no século III a.C., com influências menores de outros idiomas.

O português arcaico desenvolveu-se no século V d.C., após a queda do Império Romano e as invasões bárbaras, como um dialecto românico, o chamado galego-português, que se diferenciou de outras línguas românicas ibéricas. Usado em documentos escritos desde o século IX, o galego-português tornou-se uma linguagem madura no século XIII, com uma rica literatura. Em 1290 foi decretado língua oficial do reino de Portugal pelo rei D.Dinis I. O salto para o português moderno dá-se no renascimento, sendo o Cancioneiro Geral de Garcia de Resende (1516) considerado o marco do seu início. A normatização da língua foi iniciada em 1536, com a criação das primeiras gramáticas, por Fernão de Oliveira e João de Barros.

A partir do séc. XVI, com a expansão da era dos descobrimentos, a história da língua portuguesa deixa de decorrer exclusivamente em Portugal, abrangendo o português europeu e o português internacional. Em 1990 foi firmado um tratado internacional com o objetivo de criar uma ortografia unificada, o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, assinado por representantes de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe.

Proto-história (séc. III a.C.- séc. XII)

Substratos pré-romanos


Mapa das línguas pré-romanas da península Ibérica
O português tem um substrato céltico/lusitano,1 originado nas línguas faladas pelos povos pré-romanos que habitavam a parte ocidental da península. Várias escritas testemunham a existência de línguas paleo-hispânicas. Em Portugal destaca-se a escrita do sudoeste dos séculos VII e V a.C. no Baixo Alentejo e Algarve. Não há acordo entre os especialistas sobre a origem destes sistemas de escrita, que poderá estar no alfabeto fenício ou no alfabeto grego, provavelmente relacionados com os contatos comerciais destes povos.

Da língua lusitana, uma língua indo-europeia céltica 2 3 ou relacionada falada entre o Douro e o Tejo, apenas se conhecem cinco inscrições tardias em alfabeto latino, incluindo as de Cabeço das Fráguas , a inscrição do Penedo de Lamas e de Arronches.6 Da língua galaica,7 também uma língua céltica ou um grupo de línguas e dialetos aparentados com o celtibero, conhecem-se numerosas palavras e frases curtas registadas em inscrições latinas de Oviedo e Mérida, ou glosadas por autores clássicos, que permanecem até hoje para nomear locais, rios ou montanhas. Após séculos de contacto com o latim estas línguas foram absorvidas, 10 mas deixaram a sua marca num dialecto determinante na evolução das línguas portuguesa e galega.

A influência celta na língua portuguesa 11 pode ser detectada em várias palavras como abrunho, barra, bico, vidoeiro, bilha, borba, braga, brio, cais, caminho, camisa, canga, canto, carro, cerveja, choco, colmeia, crica, curro, embaixada, gorar, légua, lousa, menino, minhoca, peça, rego, tojo, tranca, vassalo,12 manteiga e tona (galaico-português: pele, odre);13 os topónimos de origem céltica em Portugal destacam-se pelo elemento "briga", que significa “fortaleza”, com em Conimbriga, Arcóbriga (antigo nome de Arcos de Valdevez), Lacóbriga (antigo nome da cidade algarvia de Lagos) e Brigantia (Bragança); o elemento "dunum", que significa “cidade” e surge no topónimo Caladunum (cidade antiga em Trás-os-Montes); frequentemente é também considerada de origem celta a etimologia do nome Portugal, de Portus Cale, sendo Cale um desenvolvimento de "Gall-", com a qual os Celtas se referiam a si próprios (como em "Galiza", "Gália", "Galway") e o do rio Douro (Durus em latim), do celta "dwr", que significa água.

O latim: base linguística (III a.C - V d.C)


Inscrição em latim num marco miliário da Via Nova, que ligava Braga a Astorga, Terras de Bouro, Portugal
Em 218 aC, os romanos iniciaram a invasão península ibérica, onde viriam a fundar a província romana da Lusitânia, atual centro e sul de Portugal. Quase 200 anos depois, terminadas as guerras Cantábricas, foi constituída a Galícia, atual norte de Portugal e Galiza.
A romanização afetou muitas áreas da vida, incluindo a língua. O latim, língua oficial do Império Romano, passou a ser usado na administração. A sua versão coloquial, o latim vulgar falado em todo o império, 15 foi difundido por soldados, colonos e mercadores vindos de várias províncias e colônias romanas. Estes estabeleceram-se em cidades perto de povoações nativas, mantendo frequentemente os mesmos nomes.

Falar latim era mais um privilégio do que um dever, e começou pelas camadas mais altas da sociedade, que tinham de lidar com a administração romana. A evolução do latim no território correspondente a Portugal ocorreu a dois ritmos: no centro e sul, na Lusitânia, foi adotado cedo, acompanhando a rápida romanização e maior cosmopolitismo. A norte, na região da Galícia, a tardia romanização, o carácter rural e o isolamento resultaram numa menor assimilação cultural e linguística, que levou ao desenvolvimento de uma variedade de latim com influências da língua galaica.18 19 A adesão ao cristianismo, introduzido nas cidades da Hispânia a partir do século I e tornado religião oficial do império em 380 pelo imperador hispano Teodósio I, contribuiu para popularizar o latim.

O uso das línguas paleo-ibéricas foi decrescendo, primeiro através do bilinguismo nos centros de ocupação romana, depois limitando-se às regiões isoladas. As línguas pré-romanas nativas acabaram por desaparecer, mas supõe-se que o seu contacto com o latim contribuiu para o desenvolvimento de diversos dialetos nas diferentes regiões da Hispânia. Mesmo a elite educada de hispano-romanos parece ter tido um sotaque peculiar: entre outros, o imperador Adriano, de origem bética, foi alvo de riso ao discursar no senado romano pelo "pronuntians agrestius", um sotaque rústico que o levou a aperfeiçoar o latim.

Para alguns autores o facto da Lusitânia e Galácia estarem incluídas na Hispânia ulterior (a "hispania afastada" na primeira divisão da península), sob influência da Bética, uma província antiga colonizada pela aristocracia senatorial, explica o latim conservador, que preservou formas arcaicas (como "pássaro"/"pájaro" (passer) e "comer" (comedere) em vez de formas latinas mais recentes ave (avicellus) manger/mangiare (manducare), e que pode explicar parte das diferenças entre o castelhano e o português. Um dos fenômenos mais antigos nesta diferenciação é a "troca dos b pelos v", ou betacismo, provavelmente sob a influência das línguas pré-romanas, com o /v/ muito mais usado no português. No latim clássico não existia o atual som [v]: "via" pronunciava-se "uia" (semelhante ao W inglês). A partir do século I o latim vulgar transformou o /w/ em /β/, que se manteve no espanhol, e que evoluiu para /v/ no português. Exemplos antigos de betacismo incluem a grafia de Nabia/Navia, deusa da mitologia galaica e lusitana.

O processo de diferenciação dos dialectos que levou ao desenvolvimento de diversos traços individuais das línguas ibero-românicas terá ocorrido ainda no período romano. Origem de todas as línguas românicas, o latim terá contribuído para quase 90% do léxico do português.

O românico de influência germânica sueva e visigótica [editar]
Ver artigo principal: Línguas ibero-românicas, Línguas galaico-portuguesas, Língua gótica, Latim medieval


Pormenor do Códice Albeldensis visigótico, c. 976, reprentando Martinho de Dume, com a inscrição Martinus episcopus bracarensis.
A partir de 409, 29 com o Império Romano em colapso, a península Ibérica foi ocupada por povos de origem germânica, a que os romanos chamavam bárbaros. O território foi então cedido a alguns destes povos como foederati: em 410 os suevos estabeleceram na Galícia o reino Suevo, primeiro reino cristão, (410-589). Na Lusitânia seriam os visigodos a dominar (411-711).
Estes povos adoptaram em grande parte a cultura romana, incluindo as leis, o cristianismo e a língua latina. Com as invasões desapareceram todos os quadros do estado, mas manteve-se de pé a organização eclesiástica, que os suevos adotaram ainda no século V, seguidos pelos visigodos, e que foi um importante instrumento de estabilidade. Como a maioria da população hispano-romana era cristã, a governação sueva - que se estendeu até Aeminium (Coimbra)- baseou-se nas paróquias, descritas no Parochiale suevorum de c.569.
O latim escrito, com influências germânicas e românicas, manteve-se na Europa como língua franca, litúrgica e jurídica: o latim medieval. No reino Suevo da Galécia, região correspondente ao norte de Portugal e Galiza, destaca-se na liturgia a partir da arquidiocese de Braga, e no direito visigótico. Foi dessa liturgia, por iniciativa de Martinho de Dume - para reforçar a ortodoxia face a tendências pagãs e heréticas do priscilianismo e arianismo- a origem do português ser a única língua românica que usa a terminologia eclesiástica de numeração ordinal para os dias da semana, de segunda-feira a sexta-feira, com registos desde 618.
No entanto, uma vez que as escolas e administração romanas acabaram, o latim vulgar falado perdeu uniformidade, evoluindo de forma diferenciada nas comunidades isoladas. Acredita-se que por volta do ano 600 já não era falado na Península Ibérica, substituído pela evolução das línguas românicas. Na Galícia, ganhou características locais levando à evolução de uma forma primitiva de galaico-português.
A presença germânica, sobretudo os três séculos de domínio visigótico, deixou numerosas palavras na língua portuguesa, sobretudo na onomástica: nomes como Rodrigo, Afonso, Álvaro, Fernando, Gonçalo, Henrique, Adães; toponímia Baltar, Gondomar, Ermesinde, Esposende, Tagilde, Guimarães, Tresmonde, Trasmil; o sufixo -engo (em solarengo, mostrengo) e palavras em regra poéticas ou guerreiras: guerra, elmo, bando, guardar, agasalhar entre outras.32 Também a letra ç (cê cedilhado) no português moderno, teve origem na escrita visigótica, resultando da evolução do Z (ʒ) visigótico.


Influência árabe


Mapa cronológico mostrando o desenvolvimento das línguas do sudoeste da Europa desde o ano 1000 até à actualidade, entre as quais o português.
Ver artigo principal: Língua moçárabe
Em 711 tropas muçulmanas vindas do Norte de África ocuparam a península Ibérica. Rapidamente atravessaram o Douro, terminando o reino visigodo. Às suas investidas escapou um grupo de visigodos acantonado no reino das Astúrias a partir de 718. Os muçulmanos assenhorearam-se do território que designavam em língua árabe Al-Andalus, o qual governaram por quinhentos anos no caso português e oitocentos no espanhol.
Com a invasão da península, a língua árabe foi adotada como língua administrativa nas regiões conquistadas. Contudo, a população continuou a falar dialectos românicos, conhecidos colectivamente como moçárabes. A principal influência árabe foi no léxico: o português moderno regista 954 palavras de origem árabe,35 especialmente em relação à agricultura, comércio e administração, sem cognatos noutras línguas românicas, com excepção do castelhano.
A maioria das palavras portuguesas de origem árabe é facilmente identificável pelos prefixos al- (correspondente ao artigo definido árabe o) ou od- (que significa rio). Embora aquelas em que al não forme uma sílaba possam ter uma raiz distinta (casos de Alexandre e Alentejo). Entre estas açúcar, alface, laranja, arroz, alfândega, armazém, bairro, almanaque, álgebra, almirante. A influência árabe é também visível na topônimos árabes em Portugal, principalmente no sul do país, tais como Algarve e Alcácer do Sal e Odemira. E que foram assimilados à medida que a reconquista foi avançando pelo que atualmente é o centro-sul de Portugal.
Português arcaico (séc. XII - séc. XVI) [editar]

O galego-português [editar]
Ver artigo principal: Língua galego-portuguesa


Apocalipse do Lorvão, manuscrito iluminado de 1180 baseado no Comentário de Beato de Liébana, Mosteiro de Lorvão
Entre 740 e 868 a região a norte do Douro foi reconquistada pelos cristãos hispano-góticos, que aí estabeleceram os seus reinos. O documento medieval com traços românicos mais antigo da península Ibérica data de 775, o Diploma do rei Silo das Astúrias,36 encontrado na Galiza e preservado no arquivo da catedral de Leão.37 38 Como este, muitos documentos escritos em latim medieval contêm palavras românicas.

Em Portugal, os mais antigos textos com traços de galego-português são a Doação à Igreja de Sozello, de 870,40 e a Carta de Fundação e Dotação da Igreja de S. Miguel de Lardosa, de 882.41 A Notícia de Torto (c. 1214?) e o Testamento de Afonso II (27 de junho, 1214) são já galego-português. Na Galiza, a documentação legal em galego-português remonta a 1231, data de um diploma de venda procedente do mosteiro de Melón, no Minho.42 No entanto, o documento chamado Carta Foral do Boo Burgo é provavelmente mais antigo (c. 1228).43 Os primeiros textos poéticos datam de c. 1195 a c. 1225.

Entre os séculos XII e XIV o galego-português teve um papel especial nos reinos cristãos medievais da península ibérica como língua literária, semelhante ao contemporâneo ocitano. Foi, quase sem exceção, a única língua usada na composição da poesia lírica trovadoresca dos reinos de Leão, Castela, Galiza, e Portugal. A sua importância foi tal que o chamado trovadorismo é considerado a segunda mais importante literatura medieval europeia. O rei de Leão e Castela Afonso X, o Sábio (1221-1284), mecenas do movimento trovadoresco e ele próprio trovador e poeta da língua galego-portuguesa, escreveu ou mandou escrever o cancioneiro sacro Cantigas de Santa Maria em galego-português, que reúne 430 composições musicadas para monofonia.

Ladinho ou linguagem ladinha era o nome que se dava ao puro romance português derivado do Latim, sem mescla de Aravia ou da Gerigonça judenga.

A poesia heroica tinha duas vertentes, a Aravia, usada pelo povo, e o Romance empregada pelos eruditos. São numerosos os documentos em que a palavra Aravia significou a linguagem plebéia, a gíria e o canto do povo. Para os eruditos o Romance significava a linguagem vulgar.45 "Para os eruditos do seculo xv e xvi, a Aravia é a linguagem corrupta com que cristãos e árabes se entendiam, é uma especie de gíria não escrita, e a própria designação de um canto do povo." [...]a Aravia que os Mosarabes falavam eram os dialetos vulgares ou Ladinha cristenga que em breve se iam desenvolver como línguas nacionais. A designação de Aravia passava a significar o cantar-romance, que veio a servir de primeiro elemento tradicional da historia."


Divergência do português e do galego

Pergaminho Vindel em galego-português, com cantigas de amigo de Martim Codax.(Pierpont Morgan Library, New York)
Em 1143 o reino de Portugal foi formalmente reconhecido pelo Reino de Leão e Castela, no qual o Reino da Galiza estava então incorporado. Em 1290, concluída a reconquista portuguesa, o rei Dinis I de Portugal decretou que a "língua vulgar" (o galego-português falado) fosse usada em vez do latim na corte, e nomeada "português". O rei trovador, neto e tradutor de Afonso X O Sábio, adoptara uma língua própria para o reino, tal como o seu avô fizera com o castelhano. Em 1296 o português foi adaptado pela chancelaria régia e passou a ser usado não só na poesia, mas também na redação das leis e pelos notários.
Como resultado da divisão política, o Galego-Português perdeu a unidade como língua nativa secular do noroeste peninsular. O galego e o português seguiram então caminhos evolutivos independentes, divergindo: o português incorporou elementos árabes durante a reconquista e no período que se seguiu, dá-se a uniformização em -ão das terminações nasais, enquanto o galego foi influenciado pelas línguas leonesa e castelhana.

Era já cerca de nesperas quando aqueste torneo duraua, et os mays delles erã ja canssados et moy quebrãtados, ca sofrerã moyta coyta aquel dia cõbatendosse et justando de cõssun. Et Achiles chegou estonçe a aquel torneo, et tragia cõsigo tres mill caualeyros de seus uassalos


— Crônica Troiana, tradução galega de 1373 da versão de Afonso XI do Roman de Troie de Benoît de Sainte-Maure

O galego manteve-se a língua escrita mais empregada no Reino de Galiza, tanto no uso legal como na criação literária, para o que contribuíram grandemente as scriptoria da nobreza e da igreja local, na ausência de uma corte real na Galiza. Mas as derrotas dos nobres galegos nas guerras irmandinhas provocaram o fim da autarquia do reino da Galiza, que passa a ser governada por uma delegação real castelhana, que impõe o castelhano como língua oficial. A partir de 1530 dá-se o desaparecimento oficial do galego como língua de cultura, que durou até finais do século XIX, nos chamados "Séculos Escuros", ficando relegado a língua regional, oral, com pouco emprego escrito.48 O português, por seu lado, desenvolveu-se no único território peninsular independente do domínio linguístico do castelhano.

O quadro seguinte mostra um trecho da cantiga de amor Pois ante vós estou aqui, escrita pelo rei D. Dinis (1261-1325) em galego-português e compilada no Cancioneiro da Vaticana. À direita, de modo comparativo, uma tradução correlativa em português e galego (baixo ortografia oficial), respectivamente:

Galego-português Português Galego
Pois ante vós estou aqui,
senhor deste meu coraçom,
por Deus, teede por razom,
por quanto mal por vós sofri,
de vos querer de mim doer
ou de me leixardes morrer.
Pois ante vós estou aqui,
senhor deste meu coração,
por Deus, tende por razão,
por quanto mal por vós sofri,
de vos querer de mim doer
ou de me deixardes morrer.
Pois ante vós estou aquí,
señor deste meu corazón,
por Deus, tede por razón,
por canto mal por vós sufrín,
de vos querer de min doer
ou de me deixardes morrer.
Português moderno (séc. XVI - séc. XXI)

Normatização: as primeiras gramáticas no Renascimento [editar]
Ver artigo principal: Renascimento em Portugal, Ortografia da língua portuguesa


Frontispício da primeira edição da Grammatica da Língua Portuguesa de João de Barros, 1540

A publicação do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende em 1516 é frequentemente considerada o marco do fim do "português arcaico".
A partir do século XVI, o renascimento aumentou o número de palavras eruditas importadas para o português e a complexidade da língua. Tal como em várias outras línguas europeias, o interesse pelos estudos humanísticos, em especial a filologia, e o desenvolvimento da imprensa levou à procura da normatização da língua portuguesa.

Em 1536 Fernão de Oliveira publicou a primeira gramática da língua portuguesa, a Grammatica da lingoagem portuguesa,49 em Lisboa, dedicada a D. Fernando de Almada. A obra do heterodoxo frade dominicano, diplomata, escritor, filólogo e tratadista naval em breve seria seguida. Em 1540, João de Barros, distinto funcionário da coroa e tesoureiro da Casa da Índia, publicou a Gramática da Língua Portuguesa e diversos diálogos morais a acompanhá-la, para ajudar ao ensino da língua materna. Considerada a primeira obra didática ilustrada no mundo,50 dedicada a informar aos jovens aristocratas, a quem se dirigia, incluia também fundamentos básicos da Igreja Católica.

O interesse pela filologia difundiu o uso de ortografias etimológicas, procurando justificar palavras vernáculas através de raízes latinas ou gregas, genuínas ou imaginadas. Duarte Nunes de Leão, pioneiro no estudo da ortografia portuguesa, 51 na obra Orthographia da lingoa portuguesa, de 1576, foi um dos seus teóricos. O desenvolvimento da imprensa contribuiu para tornar correntes as novas grafias, abundantes em ch, ph, rh, th e y nas palavras de origem grega (archaico, phrase, rhetorica, theatro, estylo, etc.) e ct, gm, gn, mn, mpt nas palavras de origem latina (aucthor, fructo, phleugma, assignatura, damno, prompto), incluindo até falsas etimologias, como a de tesoura escrita thesoura, por sugestão de thesaurus, quando o étimo é tonsoria.

Durante o período da União Ibérica (1580-1640), em que os reinos de Portugal e Espanha estiveram unidos, linguistas espanhóis cogitaram em ser a língua portuguesa, um dialeto do castelhano. Essa teoria foi descartada, visto que consistia em ser uma ideia de cunho mais político, na tentativa de uma maior dominação para com os portugueses, e por não possuir qualquer fundamento linguístico ou histórico.

Expansão com os Descobrimentos


A língua portuguesa no mundo actual:
Língua materna
Língua oficial e administrativa
Língua cultural ou secundária
Minorias falantes do português
Crioulos de base portuguesa

Entre os séculos XV e XVI, com a expansão da era dos descobrimentos, os portugueses levaram a língua portuguesa a muitas regiões das África, Ásia e América. Simultaneamente importaram para o léxico português e de várias línguas europeias novas palavras, vindas de terras distantes.
Os primeiros contatos eram assegurados por intérpretes poliglotas, os chamados "lingoas", como Gaspar da Gama e Duarte Barbosa. O português tornou-se a língua franca nas costas do Oceano Índico e em África, usado não só pela administração colonial e pelos mercadores, mas também entre os oficiais locais e europeus de todas as nacionalidades. Vários reis do Ceilão (atual Sri Lanka) falavam português fluentemente, e os nobres normalmente tinham nomes portugueses. A propagação da língua foi ajudada por casamentos mistos entre portugueses e as populações locais.

A língua portuguesa continuou a gozar de popularidade no sudoeste asiático até ao século XIX. No Ceilão e na Indonésia a língua continuou popular mesmo com várias medidas contra ela levadas a cabo pelos holandeses. Algumas comunidades cristãs que falavam português, nas Índia, Sri Lanka, Malásia e Indonésia preservaram a sua língua mesmo depois de se isolarem de Portugal. Ao longo dos séculos desenvolveram-se vários crioulos de base portuguesa em África, na Índia, no Sudeste Asiático e em Macau.

Topónimos como Serra Leoa,52 Lagos (Nigéria), Elmina (Gana), Ano Bom, Natal, Gabão, Camarões, Brasil, Cochinchina,53 Formosa (Taiwan), Flores (Indonésia) atestam a passagem dos portugueses no século XVI. Várias palavras portuguesas entraram no léxico de outras línguas, tais como "sepatu" (sapato) em indonésio, "keju" (queijo) em malaio, "meza" (mesa) em swahili, "botan" (botão), "kompeitō" (confeito), "kappa" (capa), entre várias palavras japonesas de origem portuguesa. Simultaneamente foram importadas para a Europa palavras ligadas à marinharia e a produtos exóticos como banana, albatroz, cachalote, caju, crioulo, garoupa, sargaço, junco (navio), macaco, mandarim,54 monção, pagode. Hoje, a maioria dos falantes do português encontram-se no Brasil, na América do Sul.

Base dos primeiros estudos linguísticos fora da Europa


Página do manuscrito do Dicionário Português-Chinês, compilado por Matteo Ricci e Miguel Ruggieri, 1583-1588.

Os esforços missionários do padroado português, sobretudo a actividade missionária jesuíta, levou a que "língua cristã" fosse sinónimo da "língua portuguesa" em muitos locais da Ásia. A expansão de colégios e o pioneirismo das missões fez com que muitos dos primeiros estudos linguísticos europeus, incluindo gramáticas e dicionários, fossem escritos em português.55 É o caso do primeiro dicionário europeu de chinês-português, c. 1580 por Michele Ruggieri e Matteo Ricci56 ; do dicionário japonês-português "Nippo Jisho", de 1603 por João Rodrigues 57 58 ; do dicionário vietnamita-Português-latim publicado em Roma em 1651 por Alexandre de Rhodes.59
Destacaram-se nesta acção o Colégio de São Paulo (Macau)60 como sede dos primeiros sinólogos, e o Colégio de São Paulo (Goa), que introduziu a imprensa na Índia,61 e levou à primeira impressão e estudos europeus da língua tâmil.62 Também sob alçada portuguesa, foram os estudos da língua concani (canarim) e da língua marata pelo linguista jesuíta Thomas Stephens. 63 Foram também pioneiros no estudo do sânscrito64 Roberto de Nobili e João de Brito. No Brasil, José de Anchieta e Luís Figueira desenvolveram os primeiros estudos da língua tupi, incluindo a gramática e dicionário; Luís Mamiani estudou a língua cariri (hoje extintas). 65 Em África, Mateus Cardoso fez a primeira tradução de quicongo c.1625.66 Na Etiópia, foi estudada intensamente e feitas traduções de ge'ez, a língua litúrgica da Etiópia, até à expulsão dos Jesuitas em 1634.

Registos mais antigos


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Os registos mais antigos que sobreviveram de uma língua portuguesa distinta são documentos notariais (ou tabeliónicos) do século IX, ainda entremeados com muitas frases em latim notarial (ou latino-romance). Essa fase da história da língua, que antecedeu o surgimento de uma escrita (scripta) portuguesa autónoma foi designada por "período proto-histórico" por José Leite de Vasconcelos. Embora a escrita tivesse uma aparência "alatinada" a língua falada era o galego-português.

Os mais antigos textos escritos em português datam de inícios do século XIII. A partir de 1255 o português foi adotado como 'língua de registo' na Chancelaria Régia (no reinado de D. Afonso III).

O mais antigo documento latino-português conhecido, datado do ano de 870 DC, é a Doação à Igreja de Souselo; trata-se, no entanto, de uma cópia do século XI (escrita em letra visigótica de transição). O mais antigo documento latino-português original conhecido é a Carta de Fundação e Dotação da Igreja de S. Miguel de Lardosa, datada de 882 DC (escrita em letra visigótica cursiva).

A Notícia de Fiadores, de 1175, é, segundo alguns estudiosos, o documento datado em escrita portuguesa mais antigo conhecido. É uma pequena lista de nomes que termina com uma única frase que apresenta sintaxe e morfologia portuguesas. A caracterização da Notícia de Fiadores como o “mais antigo” não foi consensualmente aceite na comunidade de filólogos portugueses.

Segundo outros estudiosos, o Pacto de Gomes e Ramiro Pais deve ser considerado o texto mais antigo escrito em português; no entanto, é apenas datável por conjectura (provavelmente anterior a 1173) e contém muitas formas gráficas latinas.

Outro importante documento, a Notícia de Torto, não datado, terá sido escrito entre 1211 e 1216: é uma longa narrativa dos agravos que o nobre Lourenço Fernandes da Cunha sofreu às mãos de outros senhores. Permanece o mais antigo documento particular datável conhecido escrito em português.

O Testamento de Dom Afonso II, datado de 1214, é o texto em escrita portuguesa mais antigo que se conhece (e é consensualmente aceite como tal pela comunidade científica): conservam-se dois testemunhos do documento, um em Lisboa, outro em Toledo. Foi o primeiro de três testamentos que o monarca lavrou, mas apenas este foi redigido na ‘scripta’ portuguesa que na época se estava a desenvolver na corte.
Estes documentos estão conservados no Arquivo Nacional da Torre do Tombo em Lisboa.

Gênero Literário

Gênero literário



Primeira página de Poética, obra de Aristóteles.

Gênero literário é uma categoria de composição literária. A classificação das obras literárias pode ser feita de acordo com critérios semânticos, sintáticos, fonológicos, formais, contextuais e outros. A distinções entre os gêneros e categorias são flexíveis, muitas vezes com subgrupos.

Na história, houve várias classificações de gêneros literários, de modo que não se pode determinar uma categorização de todas as obras seguindo uma abordagem comum. A divisão clássica é, desde a Antiguidade, em três grupos: narrativo ou épico, lírico e dramático. Essa divisão partiu dos filósofos da Grécia antiga, Platão e Aristóteles, quando iniciaram estudos para o questionamento daquilo que representaria o literário e como essa representação seria produzida. Essas três classificações básicas fixadas pela tradição englobam inúmeras categorias menores, comumente denominadas subgêneros.

O gênero lírico se faz, na maioria das vezes, em versos e explora a musicalidade das palavras. É importante ressaltar que o gênero lírico trabalha bastante com as emoções, explorando os sentimentos Entretanto, os outros dois gêneros — o narrativo e o dramático — também podem ser escritos nessa forma, embora modernamente prefira-se a prosa.

Todas as modalidades literárias são influenciadas pelas personagens, pelo espaço e pelo tempo. Todos os gêneros podem ser não-ficcionais ou ficcionais. Os não-ficcionais baseiam-se na realidade, e os ficcionais inventam um mundo, onde os acontecimentos ocorrem coerentemente com o que se passa no enredo da história.


Gênero Narrativo

O texto épico relata fatos históricos realizados pelos seres humanos no passado. é relatar um enredo, sendo ele imaginário ou não, situado em tempo e lugar determinados, envolvendo uma ou mais personagens, e assim o faz de diversas formas.
As narrativas utilizam-se de diferentes linguagens: a verbal (oral ou escrita), a visual (por meio da imagem), a gestual (por meio de gestos), além de outras.
Quanto à estrutura, ao conteúdo e à extensão, pode-se classificar as obras narrativas em romances, contos, novelas, poemas épicos, crônicas, fábulas e ensaios. Quanto à temática, às narrativas podem ser histórias policiais, de amor, de ficção e etc.
Todo texto que traz foco narrativo, enredo, personagens, tempo e espaço, conflito, clímax e desfecho é classificado como narrativo.


Textos narrativos

Seguem, abaixo, modalidades textuais pertencentes ao gênero narrativo.2
Romance: é um texto completo, com tempo, espaço e personagens bem definidos de carácter verossímil.
Fábula: é um texto de carácter fantástico que busca ser inverossímil (não tem nenhuma semelhança com a realidade). As personagens principais são animais ou objetos, e a finalidade é transmitir alguma lição de moral.
Epopeia ou Épico: é uma narrativa feita em versos, num longo poema que ressalta os feitos de um herói ou as aventuras de um povo. Três belos exemplos são Os Lusíadas, de Luís de Camões, Ilíada e Odisseia, de Homero.
Novela: é um texto caracterizado por ser intermediário entre a longevidade do romance e a brevidade do conto. O personagem se caracteriza existencialmente em poucas situações. Como exemplos de novelas, podem ser citadas as obras O Alienista, de Machado de Assis, e A Metamorfose, de Kafka.
Conto: é um texto narrativo breve, e de ficção, geralmente em prosa, que conta situações rotineiras, curta, engraçada e até folclores (conto popular). Caracteriza-se por personagens previamente retratados. Inicialmente, fazia parte da literatura oral e Boccaccio foi o primeiro a reproduzi-lo de forma escrita com a publicação de Decamerão.
Crônica: é uma narrativa informal, ligada à vida cotidiana, com linguagem coloquial, breve, com um toque de humor e crítica.
Ensaio: é um texto literário breve, situado entre o poético e o didático, expondo ideias, críticas e reflexões morais e filosóficas a respeito de certo tema. É menos formal e mais flexível que o tratado. Consiste também na defesa de um ponto de vista pessoal e subjetivo sobre um tema (humanístico, filosófico, político, social, cultural, moral, comportamental, literário, etc.), sem que se paute em formalidades como documentos ou provas empíricas ou dedutivas de caráter científico.


Gênero Dramático

É composto de textos que foram escritos para serem encenados em forma de peça de teatro. Para o texto dramático se tornar uma peça, ele deve primeiro ser transformado em um roteiro, para depois poder ser transformado então no gênero espetáculo. É muito difícil ter definição de texto dramático que o diferencie dos demais gêneros textuais, já que existe uma tendência atual muito grande em teatralizar qualquer tipo de texto. No entanto, a principal característica do texto dramático é a presença do chamado texto principal, composto pela parte do texto que deve ser dito pelos atores na peça e que, muitas vezes, é induzido pelas indicações cênicas, rubricas ou didascálias, texto também chamado de secundário, que informa os atores e o leitor sobre a dinâmica do texto principal. Por exemplo, antes da fala de um personagem é colocada a expressão: «com voz baixa», indicando como o texto deve ser falado.
Já que não existe narrador nesse tipo de texto, o drama é dividido entre as duas personagens locutoras, que entram em cena pela citação de seus nomes.
"Classifica-se de drama toda peça teatral caracterizada sem seriedade, ou solenidade, em semelhança à comédia propriamente dita".
Apresenta qualquer tema, estrutura-se em dois tipos de textos: rubrica e o discurso direto. Há ausência de narrador e é formado por atos, quadros e cenas porém o gênero dramático se encontra numa classe gramatical muito grande e alta o que dificulta o entendimento desse assunto.


Subclassificações dos gêneros

A notícia é um exemplo de texto não literário.

Elegia — é um texto de exaltação à morte de alguém, sendo que a morte é elevada como o ponto máximo do texto. Um bom exemplo é a peça Romeu e Julieta, de William Shakespeare.
Epitalâmia — é um texto relativo às noites nupciais líricas, ou seja, noites românticas com poemas e cantigas. Um bom exemplo de epitalâmia é a peça Romeu e Julieta nas Noites Nupciais.
Sátira — é um texto de caráter ridicularizador, podendo ser também uma crítica indireta a algum fato ou a alguém. Uma piada é um bom exemplo de sátira.
Farsa — é um texto onde os personagens principais podem ser duas ou mais pessoas diferentes e não serem reconhecidos pelos feitos dessa pessoa.
Tragédia — representa um fato trágico e tende a provocar compaixão e terror.
Poesia de cordel - texto tipicamente brasileiro em que se retrata, com forte apelo linguístico e cultural nordestinos, fatos diversos da sociedade e da realidade vivida por aquele povo.


Outros
Comédia
Comédia musical
Commedia dell'arte
Drama
Melodrama
Mistério
Pantomima
Romance
Romance Policial
Romance Psicológico
Tragicomédia
Teatro de marionetes
Teatro de máscaras
Vaudeville
Teatro de improvisação
Performance

Narração: Discursos Direto, Indireto e Indireto Livre.

Narração: Discursos Direto, Indireto e Indireto Livre.

Na narração, existem três formas de citar a fala (discurso) dos personagens: o discurso direto, o discurso indireto e o discurso indireto livre.



Discurso direto: Por meio do discurso direto, reproduzem-se literalmente as palavras do personagem. Esse tipo de citação é muito interessante, pois serve como uma espécie de comprovação figurativa (concreta) daquilo que acabou de ser exposto (ou que ainda vai ser) pelo narrador. É como se o personagem surgisse, por meio de suas palavras, aos olhos do leitor, comprovando os dados relatados imparcialmente pelo narrador. O recurso gráfico utilizado para atribuir a autoria da fala a outrem, que não o produtor do texto, são as aspas ou o travessão. O discurso direto pode ser transcrito:

a) Após dois-pontos, sem verbo dicendi (utilizado para introduzir discursos)

E, para o promotor, o processo não vem correndo como deveria: “Às vezes sinto morosidade por parte do juiz”.

*Utilizando-se o sinal de dois-pontos, o ponto final deve sempre ficar fora das aspas, tendo em vista que encerra todo o período (de E… até juiz).

b) Após dois-pontos, com verbo dicendi (evitável)

E o promotor disse: “Às vezes sinto morosidade por parte do juiz”.

c) Após dois-pontos, com travessão:

E Carlos, indignado, gritou:
- Onde estão todos???

d) Após ponto, sem verbo dicendi

E, para o promotor, o processo não vem correndo como deveria. “Às vezes sinto morosidade por parte do juiz.”

* O ponto final ficou dentro das aspas pois encerrou somente o período correspondente à fala do entrevistado (personagem).

e) Após ponto, com verbo dicendi após a citação

E, para o promotor, o processo não vem correndo como deveria. “Às vezes sinto morosidade por parte do juiz”, declarou.

f) Integrado com a narração, sem sinal de pontuação

E, para o promotor, o processo não vem correndo como deveria, porque “Às vezes se nota morosidade por parte do juiz”.

Discurso indireto: Por meio do discurso indireto, a fala do personagem é filtrada pela do narrador (você, no caso). Não mais há a transcrição literal do que o personagem falou, mas a transcrição subordinada à fala de quem escreve o texto. No discurso indireto, utiliza-se, após o verbo dicendi, a oração subordinada (uma oração que depende da sua oração) introduzida, geralmente, pelas conjunções que e se, que podem estar elípticas (escondidas).

Exemplos:

Fala do personagem: Eu não quero mais trabalhar.
Discurso indireto: Pedro disse que não queria mais trabalhar.

Fala do personagem: Eu não roubei nada deste lugar.
Discurso indireto: O acusado declarou à imprensa que não tinha roubado nada daquele lugar.

Você notou que, na transcrição indireta do discurso, há modificações em algumas estruturas gramaticais, como no tempo verbal (quero, queria; roubei, tinha roubado), nos pronomes (deste, daquele), etc. Confira a tabela de transposição do discurso direto para o indireto:

DIRETO - Enunciado em primeira ou em segunda pessoa: “Eu não confio mais na Justiça”; ” Delegado, o senhor vai me prender?”

INDIRETO – Enunciado em terceira pessoa: O detento disse que (ele) não confiava mais na Justiça; Logo depois, perguntou ao delegado se (ele) iria prendê-lo.

DIRETO – Verbo no presente: “Eu não confio mais na Justiça”

INDIRETO – Verbo no pretérito imperfeito do indicativo: O detento disse que não confiava mais na Justiça.

DIRETO – Verbo no pretérito perfeito: “Eu não roubei nada”

INDIRETO – Verbo no pretérito mais-que-perfeito composto do indicativo ou no pretérito mais-que-perfeito: O acusado defendeu-se, dizendo que não tinha roubado (que não roubara) nada

DIRETO – Verbo no futuro do presente: “Faremos justiça de qualquer maneira”

INDIRETO – Verbo no futuro do pretérito: Declararam que fariam justiça de qualquer maneira.

DIRETO – Verbo no imperativo: “Saia da delegacia”, disse o delegado ao promotor.

INDIRETO – Verbo no pretérito imperfeito do subjuntivo: O delegado ordenou ao promotor que saísse da delegacia.

DIRETO – Pronomes este, esta, isto, esse, essa, isso: “A esta hora não responderei nada”

INDIRETO – Pronomes aquele, aquela, aquilo: O gerente da empresa tentou justificar-se, dizendo que àquela hora não responderia nada à imprensa.

DIRETO – Advérbio aqui: “Daqui eu não saio tão cedo”

INDIRETO – Advérbio ali: O grevista certificou os policiais de que dali não sairia tão cedo..

Discurso indireto livre: Esse tipo de citação exige muita atenção do leitor, porque a fala do personagem não é destacada pelas aspas, nem introduzida por verbo dicendi ou travessão. A fala surge de repente, no meio da narração, como se fossem palavras do narrador. Mas, na verdade, são as palavras do personagem, que surgem como atrevidas, sem avisar a ninguém.

Exemplo: Carolina já não sabia o que fazer. Estava desesperada, com a fome encarrapitada. Que fome! Que faço? Mas parecia que uma luz existia…

A fala da personagem – em negrito, para que você possa enxergá-la – não foi destacada. Cabe ao leitor atento a sua identificação.

Textos Literários e Não Literários

Textos Literários e Não Literários



Existem textos que se classificam como literários e não literários, portanto, este artigo pretende evidenciar as suas particularidades e esclarecer as maneiras de distingui-los.

O texto para ser considerado literário precisa ter uma elaboração peculiar e especial ao referir-se aos fatos presentes no texto. Nesses textos é possível perceber traços que não existem nos não literários. Para ser chamado de literatura, o texto precisa ter uma linguagem bem elaborada, de modo que ela seja artística, e o universo descrito até então é desconhecido do leitor, pois faz parte apenas do universo imaginário, entretanto, sem perder sua interação com o mundo real.

Essa interação ocorre por meio de vários recursos, dentre eles: pontuação diferenciada, figuras de linguagem e vocabulário bem selecionado para transmitir o que se pretende. Geralmente, o texto embasado nesses fatores revela emoção, pessoalidade e é detentor de simbologia, arte e beleza que transcendem às palavras no papel.

Esse tipo também pode ter musicalidade e ritmo, experimentos no que tange à organização das frases e construção de parágrafos, tudo a fim de tocar a sensibilidade do leitor. A identificação desses elementos é fundamental para a identificação do texto literário, em oposição ao não literário. São considerados literários: crônicas, contos, novelas, romances e poemas.

Os não literários são os textos corriqueiros que não possuem elementos artísticos, construções diferenciadas ou recursos que denotem a eles caráter único. Encaixam-se como textos não literários anúncios, notícias jornalísticas, textos técnicos de distintas áreas do conhecimento e relatórios científicos.

Linguagem Literária e Linguagem Não-Literária

A linguagem literária é caracterizada por sua plurissignificação, cuja base é a conotação, é utilizada muitas vezes com um sentido diferente daquele que lhe é comum.

Podemos citar como exemplos de textos literários o conto, o poema, o romance, peças de teatro, novelas, crônicas.

A linguagem não literária é a utilizada com o seu sentido comum, empregada denotativamente, é a linguagem dos textos informativos, jornalísticos, científicos, receitas culinárias, manuais de instrução etc.

"Cotidiano" e "As boas coisas da vida"

Rubem Braga: As boas coisas da vida


Uma revista mais ou menos frívola pediu a várias pessoas para dizer as “dez coisas que fazem a vida valer a pena”. Sem pensar demasiado, fez esta pequena lista:

- Esbarrar às vezes com certas comidas da infância, por exemplo: aipim cozido, ainda quente, com melado de cana que vem numa garrafa cuja rolha é um sabugo de milho. O sabugo dará um certo gosto ao melado? Dá: gosto de infância, de tarde na fazenda.

- Tomar um banho excelente num bom hotel, vestir uma roupa confortável e sair pela primeira vez pelas ruas de uma cidade estranha, achando que ali vão acontecer coisas surpreendentes e lindas. E acontecerem.

- Quando você vai andando por um lugar e há um bate-bola, sentir que a bola vem para o seu lado e, de repente, dar um chute perfeito – e ser aplaudido pelos servente de pedreiro.

- Ler pela primeira vez um poema realmente bom. Ou um pedaço de prosa, daqueles que dão inveja na gente e vontade de reler.

- Aquele momento em que você sente que de um velho amor ficou uma grande amizade – ou que uma grande amizade está virando, de repente, amor.

- Sentir que você deixou de gostar de uma mulher que, afinal, para você, era apenas aflição de espírito e frustração da carne – a mulher que não te deu e não te dá, essa amaldiçoada.

- Viajar, partir…

- Voltar.

- Quando se vive na Europa, voltar para Paris, quando se vive no Brasil, voltar para o Rio

- Pensar que, por pior que estejam as coisas, há sempre uma solução, a morte – o assim chamado descanso eterno.

Rubem Braga



Cotidiano
Chico Buarque

Todo dia ela faz tudo sempre igual:
Me sacode às seis horas da manhã,
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã.

Todo dia ela diz que é pr'eu me cuidar
E essas coisas que diz toda mulher.
Diz que está me esperando pr'o jantar
E me beija com a boca de café.

Todo dia eu só penso em poder parar;
Meio-dia eu só penso em dizer não,
Depois penso na vida pra levar
E me calo com a boca de feijão.

Seis da tarde, como era de se esperar,
Ela pega e me espera no portão
Diz que está muito louca pra beijar
E me beija com a boca de paixão.

Toda noite ela diz pr'eu não me afastar;
Meia-noite ela jura eterno amor
E me aperta pr'eu quase sufocar
E me morde com a boca de pavor.

Todo dia ela faz tudo sempre igual:
Me sacode às seis horas da manhã,
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã.

Todo dia ela diz que é pr'eu me cuidar
E essas coisas que diz toda mulher.
Diz que está me esperando pr'o jantar
E me beija com a boca de café.

Todo dia eu só penso em poder parar;
Meio-dia eu só penso em dizer não,
Depois penso na vida pra levar
E me calo com a boca de feijão.

Seis da tarde, como era de se esperar,
Ela pega e me espera no portão
Diz que está muito louca pra beijar
E me beija com a boca de paixão.

Toda noite ela diz pr'eu não me afastar;
Meia-noite ela jura eterno amor
E me aperta pr'eu quase sufocar
E me morde com a boca de pavor.

Todo dia ela faz tudo sempre igual:
Me sacode às seis horas da manhã,
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã.

A Crônica

A crônica é uma forma textual no estilo de narração que tem por base fatos que acontecem em nosso cotidiano. Por este motivo, é uma leitura agradável, pois o leitor interage com os acontecimentos e por muitas vezes se identifica com as ações tomadas pelas personagens.

Você já deve ter lido algumas crônicas, pois estão presentes em jornais, revistas e livros. Além do mais, é uma leitura que nos envolve, uma vez que utiliza a primeira pessoa e aproxima o autor de quem lê. Como se estivessem em uma conversa informal, o cronista tende a dialogar sobre fatos até mesmo íntimos com o leitor.

O texto é curto e de linguagem simples, o que o torna ainda mais próximo de todo tipo de leitor e de praticamente todas as faixas etárias. A sátira, a ironia, o uso da linguagem coloquial demonstrada na fala das personagens, a exposição dos sentimentos e a reflexão sobre o que se passa estão presentes nas crônicas.

Como exposto acima, há vários motivos que levam os leitores a gostar das crônicas, mas e se você fosse escrever uma, o que seria necessário? Vejamos de forma esquematizada as características da crônica:

Narração curta;
• Descreve fatos da vida cotidiana;
• Pode ter caráter humorístico, crítico, satírico e/ou irônico;
• Possui personagens comuns;
• Segue um tempo cronológico determinado;
• Uso da oralidade na escrita e do coloquialismo na fala das personagens;
• Linguagem simples.

Portanto, se você não gosta ou sente dificuldades de ler, a crônica é uma dica interessante, pois possui todos os requisitos necessários para tornar a leitura um hábito agradável!

Alguns cronistas (veteranos e mais recentes) são: Fernando Sabino, Rubem Braga, Luis Fernando Veríssimo, Carlos Heitor Cony, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Ernesto Baggio, Lygia Fagundes Telles, Machado de Assis, Max Gehringer, Moacyr Scliar, Pedro Bial, Arnaldo Jabor, dentre outros.